FliPortela: a escola de samba como protagonista cultural dos subúrbios
Site Letra Capitular – 22/4/2019
Na contramão do mercado editorial brasileiro que vê grandes e pequenas livrarias fecharem as portas e editoras sofrerem cada vez mais para colocarem seus livros na rua, há uma proliferação de feiras e festas literárias. À margem dos grandes eventos como a Bienal do Livro que acontece desde 1970 em São Paulo realizada pela CBL (Câmara Brasileira do Livro) e desde 1983 no Rio por iniciativa do Snel (Sindicato Nacional dos Editores) e também da Flip (Festa Literária Internacional de Paraty) idealizada pela Casa Azul em 2003, surgem pequenos festivais dedicados a literatura país afora. Pequenos no que diz respeito ao tamanho em relação aos eventos tradicionais do circuito literário, porém, gigantes e até maiores em relevância cultural.
Para ficar só no Rio, temos, por exemplo, a Flup (Festa Literária das Periferias) e a Feira Literária da Baixada. Na esteira dessas realizações, a Portela, maior campeã do carnaval carioca e tradicional agremiação de Oswaldo Cruz e Madureira no subúrbio do Rio, assumiu o seu inerente protagonismo cultural e promoveu a primeira festa literária feita dentro de uma quadra de escola de samba. O evento que aconteceu nos dias 20 e 21 de abril reuniu autores, editoras, artistas e a própria comunidade da escola é fruto de um trabalho realizado desde 2017 pelo departamento cultural do grêmio recreativo.
Rogério Rodrigues, diretor cultural, explica a idealização da festa:
“A FliPortela surgiu a partir de um projeto chamado Portela de Asas Abertas. Criado como uma roda de samba, a iniciativa foi além e se tornou uma grande manifestação cultural com feira de afroempreendedores, exposições de artes visuais e gastronomia. Devido a essa expansão, pensamos em fazer uma edição especial em homenagem ao Candeia, que sempre militou pela cultura afro-brasileira e suburbana. No entanto, por uma série de motivos esse projeto foi interrompido até que o retomamos no ano passado. Percebemos que ele tinha corpo e escopo para ser mais do que uma edição do Asas Abertas. A ideia sustentava um projeto autônomo, surgindo assim a Festa Literária da Portela.”
A escolha de ser definida como uma festa é exatamente pelo fato de englobar e receber as diversas formas da palavra, não apenas a escrita literária. Por isso, além de ser espaço da literatura tradicional, o evento foi palco para a palavra contada, a palavra cantada, a palavra falada, dança, artes visuais e muito mais. Entre as diversas atividades programadas que aconteceram simultaneamente para atender os mais diferentes objetivos, houve lugar para saraus e recitais. O poeta Yuri Coloneze, portelense de alma, coração e sangue, teve a oportunidade de declamar suas poesias nos dois dias de evento, tanto de forma individual quanto com a comunidade poética Frutos da Poesia. Yuri comenta a importância de ter voz e participar de um projeto como esse:
“Falar de Portela é falar de família, uma ligação íntima e direta com meu pai e essa paixão pela azul e branco. Portanto, declamar meus versos pela primeira vez na vida e justamente num espaço sagrado foi um verdadeiro desafio, mas, um prazer indescritível. Destaco também o carinho, o cuidado e a acolhida do departamento cultural da Portela e da Ana Machado e do Romulo Narducci, curadores da festa para todos nós. Abrir esse espaço para autores independentes e até para comunidades poéticas foi incrível e extremamente especial. Levar cultura popular para um espaço popular por excelência foi histórico.”
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