Perímetro Cultural
Apresentação | |
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Mais do que nunca, a informação assume a dimensão de facilitador da acessibilidade aos bens materiais e culturais, nesta época em que o conceito da chamada "globalização" norteia as relações de todos os tipos e em todos os níveis. O acesso à informação é condição básica para a formação de cidadãos e esteio da democracia, uma vez que, sem ela (a informação), vive-se à margem do que a coletividade constrói e oferece. Sem informação não se estabelece uma consciência crítica. Sem informação não se estabelece a igualdade entre os cidadãos, pois aquele que não a possui pode ser passível do jugo do outro. Ainda que esse conceito expansionista de globalização seja visto como uma tendência irreversível, longe de estabelecer ou reivindicar o isolacionismo, cabe fomentar esforços que estimulem a globalização solidária sem esquecer os traços particulares que configuram a identidade. As Escolas de Samba, como manifestação cultural do País, mas, essencialmente, do Rio de Janeiro, também refletem essa contradição porque se inserem no contexto histórico-político-social nacional e caracterizam-se como produto, meio e dinamizador das relações de comunidades historicamente marginalizadas. São comunidades que, pela capacidade de organização e pela força de sua expressão estética e musical, conseguiram dar visibilidade à sua existência e à sua voz, desconcertando a ordem e o gosto dominantes. Obviamente, sua espontaneidade, exuberância e criatividade, manifestadas na intimidade dos encontros familiares (nessas comunidades, o conceito de família é muito mais elástico do que o empregado nas classes burguesas) e nos seus desfiles - culminância de um longo, detalhado, planejado e exaustivo trabalho ao longo do ano - acabaram por se transformar em objeto de controle do Estado, através de regulamentos de funcionamento e apresentação, e dos mídias, que vislumbram seu potencial de marketing e retorno econômico. Com isso, cada vez mais os valores que caracterizam sua individualidade estão sendo substituídos por parâmetros impostos pela equalização do gosto e das expectativas, ainda que os chamados tradicionalistas - leia-se aqui, por parte de quem utiliza | este termo, como algo ultrapassado - resistam, denunciem e tentem preservar as suas referências. Apesar de tudo, a escola de samba ainda possui mecanismos de defesa que permitem sua preservação: por mais que as classes mais privilegiadas tentem penetrar em seu universo, percebe-se a existência de um acesso limitado, consentido àqueles que demonstram afinidade e afeto sinceros, porém, estrangeiros nos valores e nos laços estabelecidos numa longa e cotidiana construção comunitária. O Grêmio Recreativo Escola de Samba Portela, fruto de uma comunidade pobre e rural, como era a região de Oswaldo Cruz, ao contrário da maioria das escolas de samba, não se originou no morro. Até por uma questão geográfica, a cultura de Oswaldo Cruz foi se impondo, conquistando a cidade, ultrapassando limites e encurtando distância. Vencer o preconceito custou um preço à Portela. Realizar ensaios em clube da zona sul do Rio abriu as portas para essa cultura rica e plural que é o samba. Porém, permitiu que elementos estranhos se apropriassem e, de certa forma, afetassem os valores construídos ao longo de décadas pela comunidade. Ao mesmo tempo, o crescimento do vizinho bairro de Madureira, caracterizando-se como importante centro de comércio popular, acaba por prolongar-se até Oswaldo Cruz, justamente na região onde nasceu a Portela. Com essa expansão, cresce a especulação imobiliária e muitas famílias mudam-se para outros bairros em seu entorno, enquanto outras, sem vínculo nenhum com o samba e, muito menos, com a Escola, passam a viver no bairro A dispersão das famílias, a morte dos primeiros fundadores e pessoas importantes na comunidade, o desinteresse das gerações mais novas pela própria história acabam por revelar uma gradativa perda de referência. Ações isoladas têm pontificado no interior e no entorno da Escola no sentido de recuperação da autoestima da comunidade. Urge a existência de um projeto que englobe essas ações e que tenha, como princípio norteador, a recuperação dessa autoestima pela preservação da memória, pela difusão cultural, pelas práticas esportivas, pela capacitação profissional, pelas ações de alcance social englobando a educação e a saúde; que contemple a recuperação, montagem, preservação e dinamização dos acervos da coletividade, destacando a importância e necessidade da disseminação da informação, e que também possibilite a formação e a capacitação de mão de obra que possa se integrar à escola de samba e à comunidade, fortalecendo a autogestão e o cooperativismo. |
Objetivos gerais - Desenvolvimento da Área de Especial Interesse Cultural - Perímetro Cultural de Oswaldo Cruz | - Estão mapeados e identificados os logradouros e/ou domicílios de importância afetiva e cultural levantados no roteiro em questão; |
Objetivos Específicos - Recolher as diversas fontes de informação escrita, audiovisual, cenográfica, musical e iconográfica sobre a Escola de Samba Portela; | - Rebatizar a Rua Pirapora para rua Antônio Rufino; - Promover o intercâmbio entre os mais novos e os mais antigos membros da comunidade - Transformar o Perímetro Cultural em pólo turístico com atividades integrantes do calendário oficial da cidade do Rio de Janeiro. |
Justificativa A ideia por trás da criação do Perímetro é recuperar, preservar e tornar acessível à comunidade de Oswaldo Cruz e bairros vizinhos sua memória cultural, a partir da história da Portela; os bens culturais, tendo como elementos motivadores a leitura, a música, a dança, o teatro, as artes visuais e o artesanato; as práticas esportivas; as ações de inclusão social. |
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